O Showman Jesselee Jones

Ele dá show! Um show de luta, talento e sucesso. Um verdadeiro Showman! É quase certo que você não saiba quem ele é, mas vai conhecer agora uma das histórias mais interessantes sobre um brasileiro que, com talento, trabalho e gentileza, arrasa nos Estados Unidos.

Há cerca de um ano, meu marido e eu decidimos conhecer Nashville e Memphis. O desejo veio após termos viajado para New Orleans e viver dias – e noites – de festa musical. Agora era a vez do berço de grandes nomes como Elvis Presley, Johnny Cash, Willy Nelson, Glen Campbell, George Jones… mais recentemente nomes como Blake Sheldon, Keith Urban, Alan Jackson, Garth Brooks, entre tantos outros. Fizemos as malas e fomos desvendar as cidades e a música do Tennessee.

Na chegada, o passeio obrigatório é caminhar pela Broadway, com seus bares, música e jeito country. A festa começa às 11 horas da manhã e se mantém assim madrugada à fora. Portas abertas, você entra e sai, se não consumir, não gasta nada, apenas uns dólares dentro de um balde que fica na frente de cada uma das bandas, bem ao estilo de New Orleans, mas a tradição do balde na frente das bandas, dizem, vem de Nashville mesmo.

Rua larga, com movimento de gente e também de carro, moto, trator e, porque não, carruagem. Tudo cabe em Nashville.

A música foge dos bares e ocupa as calçadas num movimento cheio de vida e energia. Impossível não se envolver com tantos talentosos músicos. Um dos bares que me chamou a atenção foi o Robert’s. Música incrível, mas o que me fez olhar de forma especial foi o letreiro: Brazilbilly…. o que é isso? Tinha tanto o que conhecer na cidade que resolvi deixar minha indagação sobre o Robert’s para outro dia, mas parece que a vida me empurrava para lá.

Conversando com a Lu Barbosa, jornalista, amiga e minha parceira de trabalho, comentei que estava em Nashville, rapidamente ela me deu o telefone de um brasileiro que tinha um bar na cidade, disse-me para procura-lo. O bar? Robert’s, claro, o mais genuíno de todos da famosa rua de Nashville. Liguei para ele e fomos até lá conhece-lo. Nossa viagem tomou outro rumo, muito mais interessante.

Sabe aquela história de uma pessoa que persegue os seus objetivos? Conhece pessoas que saíram do nada e se tornaram campeões? Jesselee é a melhor representação de tudo isso.

Falando um bom português, mas com muito sotaque, Jesselee nos recebeu na porta do bar lotado. Atravessamos por um verdadeiro amontoado de gente, até o final do salão, subimos alguns degraus e chegamos no escritório dele. Foi ali, com menos música, que começamos a falar sobre sua história, sobre música e sobre os Estados Unidos. A única pessoa que nos interrompeu foi sua linda e simpática namorada, Emily, que veio nos oferecer algo para beber.

Jesselee é um homem bonito, aparenta muito menos idade do que tem e seu jeito simples esconde seu talento e sucesso. Simpático e gentil, com pouco tempo de conversa sentimos como se nos conhecêssemos há muito tempo.

Ele morou no Brasil até seus 20 anos de idade, quando resolveu se aventurar nos Estados Unidos. Sem saber falar inglês e sem dinheiro, ele só tinha a seu favor uma imensa vontade de vencer através da sua música e do seu talento, uma fé inabalável e uma força que ele não sabe explicar de onde vem. Foi recebido por uma família com 10 filhos. O chefe da casa o “enquadrou” rápido. “- se você quer falar português, volte para o Brasil. Se quiser falar italiano, vá para a Itália, quer falar espanhol, escolha um país com essa língua. Mas que quiser ficar aqui, fale inglês!”

Jesselee é de origem italiana e rapidamente, ainda no Brasil aprendeu o idioma, assim como aprendeu espanhol. Mas a bronca foi suficiente para ele não falar nenhum outro idioma até que estivesse fluente no inglês. Depois disso, sim, ele continuou falando todos os idiomas que conhecia, o que sempre o ajudou no seu dia a dia nos Estados Unidos e em seus shows.

Passados alguns anos, Jesselee foi “adotado” por outra família menor, com um casal de filhos. Ele foi morar em Peoria, Illinois e foi ali que começou realmente sua vida nos Estados Unidos. Estudou, trabalhou e pode apresentar-se como músico. Ali ele também deu início ao seu patrimônio. “- trabalhava de domingo a domingo, fazia de tudo, aprendi a lidar com a casa, desde fazer os pequenos reparos, até construir, estudei, me formei e segui a carreira em Law Enforcement and Criminology e trabalhei no Departamento de Polícia.” Foi ali também que Jesselee comprou seu primeiro carro.

Colecionador de carros

Sim. Jesselee é apaixonado por carros antigos. Hoje ele tem em sua garagem nada menos que 25 relíquias, cada uma com o nome de uma mulher. Ele chama sua coleção de “as minhas meninas”. São 14 Cadillacs, além de Mercedes, Lincoln, Jaguar e Pontiac trans-am. Todos em perfeito funcionamento e cheios de curiosidades. Um Cadillac que era montado na Itália, outro comemorativo dos 50 anos da fábrica e o primeiro modelo construído depois da segunda guerra, entre tantas outras histórias. Fomos jantar num Lincoln 79, delícia, ouvindo Perry Como, passeando pela bela Nashville, verdadeira cena de filme vivida integralmente.

Nos Estados Unidos é possível personalizar a placa de seus carros. Seu primeiro carro foi um Cadillac 1980. E ele colocou a placa Jesse 88 – o ano que ele comprou o carro. Cada vez que ele saia com o carro, pessoas o aplaudiam, outro faziam sinal de positivo, de vitória…. e ele não entendia a reação das pessoas,
até que um amigo explicou: Jesse era também o nome do candidato nas prévias do partido democrata para à presidência dos Estados Unidos, e o ano das eleições era… 88. As pessoas achavam que era um carro em apoio ao candidato Jesse Jackson. A própria equipe da campanha do Jesse, os colocou em contato e por causa da coincidência, ele conheceu o candidato Jesse Jackson, participou de uma homenagem a ele, cantando num coral de 200 vozes. Jesse Jackson não passou nas prévias e, portanto, não concorreu às eleições, mas fez história na política americana.

Estilo de vida

Embora tenha uma casa extremamente confortável, com um quintal cheio de carros antigos, uma piscina, área verde e casa de hóspedes super bem montada, o estilo de vida de Jesselee é bastante simples. “Eu mesmo faço os reparos da minha casa”. Jesselee dá valor a cada uma de suas conquistas. “Tudo me custou muito trabalho. Muito. Mas valeu a pena, tenho tudo aquilo que sonhei ter, especialmente amigos incríveis e duas famílias que me apoiam, a família americana e a brasileira.”

Jesselee nunca bebeu nem fumou, embora viva na noite, nos palcos e na música. E talvez seu maior feito tenha sido comprar o bar onde começou a tocar em Nashville, o Robert’s. “Comprei não só o negócio, mas o prédio também”, conta, não com orgulho, mas com alegria de ter um negócio do qual ele acredita. “Mantenho uma música de qualidade e um ambiente seguro e alegre, onde as pessoas podem se divertir e levar consigo as melhores lembranças de Nashville.”

Hoje ele tem o que chama de “dois braços”. Sua gerente, Julie, à frente do Robert’s, e sua namorada, Emily, que toma a frente de sua carreira com extrema competência.

É um curioso e estudioso da cultura americana, especialmente da country music, mas não só. Respeita, estuda e aprende tudo sobre a cultura indígena e as raízes da América. Carros, armas são outros objetos de constante estudo e aprendizado.

A música de Jesselee

Jesselee Jones ouve música desde criança, ainda no Brasil. Preferia a musicalidade das composições americanas, mesmo sem entender a letra, e foi com essa inspiração que começou a dedilhar seu talento e soltar a voz. Sua família pensava no futuro do rapaz e não o queria na incerteza da vida de artista, preferia uma carreira mais sólida. Ele não. Estava certo de que queria ser um artista e quando pode, instalou-se nos Estados Unidos, com o único objetivo de viver de música.

Em Illinois ele se apresentava em todos os cantos que havia possibilidade, entre eles, numa casa de repouso grande que havia perto de sua cidade. Para as suas apresentações, preferia usar um belíssimo piano de uma das internas. Ele só parou de frequentar o local quando se mudou para Nashville. Quase dez anos depois, Jesselee recebe um telefonema que a senhora havia falecido, mas deixara para ele o seu piano que hoje vive em sua sala de estar.

Após tornar-se cidadão americano, Jesselee foi convidado a representar seu estado na Guerra do Golfo, participando dos momentos de entretenimento da tropa, e fez vários shows para os militares.

A paixão pelos clássicos da música e pelo country tradicional fizeram com que Jesse desenvolvesse dois trabalhos distintos: um com sua banda Brazilbilly e outro como cantor de clássicos.

Brazilbilly

O verdadeiro estilo honky tonk. Para os que não conhecem o termo, seria a música caipira de raiz, com toda a sua originalidade, musicalidade e estilo. É assim que o Brazilbilly se apresenta e encanta o público. Capa, chapéu, botas e uma arma no cinturão. Muito som e muito talento.

Diversão na certa. “Hoje o Brazilbilly se apresenta às sextas, depois das 11 da noite. Adoro. Nós nos divertimos no palco.”

E foi através dessas apresentações que Jesselee ficou conhecido por toda Nashville, por grandes nomes da música americana e personalidades dos mais variados cenários. O Robert’s foi o cenário perfeito para Jesse apresentar seu talento, a princípio só voz e violão, até formar sua banda, Brazilbilly, consagrando um estilo único e pessoal.

O amigo Manuel

Nos Estados Unidos quando se fala de um grande nome da música, além de apresentar seus trabalhos fonográficos, há um grande valor pelas roupas usadas em shows. Os museus de música apresentam grandes vitrines com a exposição das vestimentas, detalhes dos sapatos e ornamentos, destaque tão grande quanto a exposição dos instrumentos usados por esse ou aquele artista.

E faz sentido. As roupas são, na verdade, a forma de transmitir a personalidade do artista. O jeito de se apresentar tem de falar sobre sua música, a “personagem” formada para o artista.

Los Angeles foi um cenário perfeito para que a importância do estilista na carreira dos artistas aparecesse. Um dos primeiros grandes nomes da moda foi Nudie Cohn. Bastou alguns grandes e importantes trabalhos para artistas o procurassem para criar seu estilo. Na esteira de Nudie Cohn, apareceu um jovem e promissor estilista, Manuel Cuevas, um mexicano talentoso e cheio de personalidade, com uma vida intensa de grandes trabalhos, reconhecimento na classe artística de todo o mundo e histórias incríveis. Seus clientes passeavam por todos os estilos, de ternos para Frank Sinatra até a composição de roupas para Os Beatles em Sgt Pepper’s. Foi além, a ele é atribuída a criação do estilo man in black de Johnny Cash e dos famosos macacões usados por Elvis Presley, aliás Elvis tinha grande parte de seu guarda roupa confeccionada por Manuel.

Pelos anos 90, Manuel Cuervas decide se mudar de Los Angeles e fixar residência e atelier em Nashville. Nessa época fez um grande amigo, Jesselee Jones. Manuel e Jesselee, até hoje, dividem jantares e histórias. E as roupas de show dele, claro, são em sua maioria, assinadas por Manuel.

O maestro Joe Guercio

Numa noite de 1999, Joe Guercio assistiu à apresentação do Brazilbilly no Robert’s, e quis conhecer Jesselee. “Eu não acreditei quando me disseram que Joe Guercio estava lá e queria me conhecer. Eu conhecia seu trabalho desde os discos que ouvia no Brasil, ele estava entre os créditos dos melhores que ouvia.” Era ele mesmo, uma verdadeira instituição americana. Foi o maestro de Elvis Presley de 1970 a 1977, responsável por todos os arranjos, por todos os seus shows. Trabalhou também com Barbra Streisand, Diana Ross, entre tantas outras grandes estrelas da música.

Joe Guercio enxergou em Jesselee Jones uma estrela a ser trabalhada. Começava ali uma grande amizade, além do CD com o trabalho que Jesselee havia imaginado gravar um dia.

“Ficamos grandes amigos, estávamos juntos quase todos os dias, ele envelhecia e sua saúde já não acompanhava mais a sua vontade de viver. Fiquei ao seu lado até seu último suspiro. Perdi um ídolo, um pai, um amigo e um parceiro de música. Ficou dentro de mim um vazio que só diminui quando canto, quando realizo o trabalho que fizemos juntos”

Jesselee no Brasil

E depois de 35 anos, Jesselee Jones volta ao Brasil, não para morar, mas para lançar seu trabalho como músico realizado com a magia do maestro Joe Guercio.

Não é a primeira vez que ele vem ao Brasil, mas desta vez é para mostrar seu trabalho desenvolvido nos Estados Unidos.

O CD está com uma belíssima produção, com direito a orquestra de alta qualidade. “Fizemos o trabalho que acreditamos. Regravei sucessos, os grandes hits dos anos 60 e 70. O que é bom vira clássico e foram esses clássicos que fomos buscar. Quem viveu essa época vai curtir, quem não viveu, vai ter a oportunidade de conhecer belíssimas canções.” Na verdade, fazer do clássico
algo pra se admirar é a alma de Jesse. Basta ver os seus carros, sua casa, seus amigos. Tudo aquilo que tem história faz brilhar os olhos de Jesse Lee Jones, e fará brilhar os seus olhos também. Tenha certeza disso.

A produção do espetáculo ainda sem data fechada, só se sabe que será em setembro, está por conta do escritório Lu Barbosa Assessoria. Lu cuida de perto de cada passo da produção, enquanto sua sócia (e filha) Pamela, cuida da agenda de entrevistas que começa a ser montada.

Para o Brasil, Jesse traz na bagagem e para o palco muito de sua vida: Ele vai se apresentar com roupas criadas por Manuel especialmente para ele, apresenta o trabalho que realizou justamente com seu grande amigo e mestre, o maestro Joe Guercio, e ainda coube em sua viagem, o lançamento do livro que conta sua trajetória de sucesso, por ora em inglês, “mas eu penso em fazer a tradução dele para o mercado brasileiro”. A promessa está feita.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.