Aprender a ser mulher

 

Lembro-me de minha avó brava quando ouvia citações do gênero: “conseguiu chegar à direção da empresa, mesmo sendo mulher”, ou “ela dirige tão bem, nem parece mulher” e ainda “apesar de mulher, ela conseguiu ter sucesso”. Eu não entendia o porquê de tanta irritação. Ela me explicava que, quanto mais enaltecêssemos a vitória da mulher, estávamos, na verdade, fazendo a diferença entre homens e mulheres e demonstrando na entrelinha do comentário que as mulheres são inferiores. E não é que é verdade?

Fato é que nas mudanças da sociedade, dos papéis exercidos por homens e mulheres, pais e mães, houve uma bagunça geral – bem vinda, devo admitir – mas complicada no exercício de viver. As mulheres de hoje ocupam cargos de grande relevância em todas as esferas sociais, ao mesmo tempo em que… Olha só o que acontece na educação dos filhos na maioria dos lares:  – meninas lavem suas calcinhas no banho; meninos, deixa a cueca no canto do banheiro que depois eu lavo. Meninas ajudem a mamãe na cozinha; meninos, vão assistir o futebol com o papai. Meninas, vocês têm de ficar lindas, arrumadas, sem sujar a roupa; meninos vão brincar, subam em árvores, corram…  Claro que me refiro a uma maioria e não generalizo a atitude, mas é comum, inclusive, o elogio diferente aos sexos: menina linda, educada, tão arrumadinha, tão boazinha; menino inteligente, bom de bola, rápido, esperto…

E no exercício da vida a menina acaba por buscar qualidades que geralmente não lhe são apreciadas como inteligência, rapidez e força. Mostrar sua personalidade além dos cabelos arrumados ou dos babados das roupas em ordem. E assim, sem que o universo familiar acomode seu espírito batalhador, ir à luta e transformar-se num ser humano de valor incontestável.

Seres humanos da espécie feminina: essa é uma condição genética. Ser mulher é aprendizado constante e são as vitórias da vida que temos de nos orgulhar. Orgulho da trajetória que caminhamos, vencendo desafios, um a um, com coragem, responsabilidade e ética. Orgulho dos filhos criados – e bem criados – da família, dos amigos. Descobrir que somos mais que meninas boazinhas, garotinhas bonitinhas e tão arrumadinhas. Somos pessoas cheias de predicados, sucessos, boas histórias e podemos, sim, ao olhar nossos álbuns de fotografias, dar um largo sorriso próprio de quem aprendeu a viver.

O problema é que não temos um manual de instrução que nos ajude nesse aprendizado.

Aproveite o Dia Internacional da Mulher para conversar com as meninas que estão ao seu redor. Pode ser a filha, a neta, a sobrinha, a filha da amiga. Fale com ela sobre a mágica da vida e quais os reais atributos que devemos explorar em nós. Fale sobre a deliciosa aventura que é viver. E mais do que se lembrar das dificuldades, conte sobre a alegria de ter vencido aquele obstáculo, afinal… como diz a minha avó – não dá para prometer que a vida é fácil, mas garanto que ela vale a pena!

* Ellen Dastry é jornalista, radialista e pós graduada em comunicação e marketing, palestrante e autora dos livros “Histórias que podem mudar sua vida” e “Nós, Mulheres do Futebol”. Contato: ellendastry@terra.com.br

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